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Queimadas na Amazônia
Hoje em dia, quando o assunto é Amazônia, imediatamente é relacionado à política, se a pessoa é de direita ou de esquerda, e se o assunto é sensacionalismo da mídia, ou especulação dos países de primeiro mundo.
Eu não quero mesmo entrar no mérito político, mas vale ressaltar que eu não tenho nenhum partido ou inclinação partidária. Tampouco me enxergo como uma pessoa de esquerda ou de direita, eu prefiro julgar cada assunto isoladamente, com base naquilo que acredito e que consigo embasar com fatos.
Dito isto, trago aqui este assunto polêmico, mas essencial para toda a indústria da pesca esportiva, a saúde da nossa esplendorosa floresta amazônica.
Eu tenho o privilégio de frequentar a Amazônia desde 2012, exatos 10 anos. Entre viagens de trabalho e pescarias, já estive na região em umas 20 oportunidades. E a verdade é que eu conheço muito pouco! Rio Negro, Amazonas, Caurés, Abacaxis, Matupiri, Juma, Tapajós, Teles Pires, Bararati, Juruena, Roosevelt, Apuí Grande, Aripuanã, Madeira e Guariba, são os rios que eu conheci. Parece muito, mas é uma pequena fração dos rios que formam o complexo emaranhado de águas do Norte do país.
E nestes 10 anos de Amazônia, sobrevoando por horas acima da floresta ininterrupta, eu nunca tinha visto um foco de fogo ou fumaça, nunca. Até a semana passando, quando visitei a foz do Rio Roosevelt. Alguns minutos após decolar do Aeroclube de Manaus em uma aeronave do modelo Caravan, com mais 7 amigos, fomos envoltos em algo que, inicialmente pensamos ser nuvens e posteriormente descobrimos que se tratava de fumaça. Ao chegar em nosso destino, podíamos ver, pelo menos, 3 focos de fogo nas proximidades, e certamente haviam muitos outros, que juntos formavam aquela espessa camada de fumaça.
Pescamos ali por uma semana nos 4 rios próximos e durante todos os dias o sol não teve a oportunidade de brilhar plenamente. Sempre havia uma camada de fumaça. Pela manhã ela se misturava com a umidade da floresta e ficava baixa, não permitindo sequer a navegação, pois a visibilidade era de poucos metros. Lá pelas 10 horas da manhã, com o calor, a fumaça subia e funcionava como um filtro solar, dando sempre a sensação de lusco-fusco.
O entardecer era lindo, o sol virava uma bola de fogo, redonda, vermelha e que podia ser vista sem óculos, mas a verdade é que era um triste efeito da fumaça.
Os piloteiros, ribeirinhos da comunidade de Matá-Matá, disseram que as queimadas são comuns nesta época do ano, entre Agosto e Setembro, mas que neste ano de 2022 elas estavam mais forte do que nunca. Eles disseram também que todos sabem quem são as pessoas que colocam fogo, mas ninguém tem coragem de denunciar, pois são criminosos que certamente responderiam com violência. E o motivo das queimadas é para limpar a terra, até então coberta com densa mata, lê-se flora e fauna, para posteriormente extrair a madeira nobre e utilizar a terra para pastar o gado.
Um dos piloteiros informou até que trabalhou extraindo madeira nos últimos meses, mas que só o fizera porque não tinha trabalho para sustentar seus 5 filhos e esposa.
Outra coisa que chamou muito a nossa atenção foi uma enorme balsa instalada no Rio Roosevelt, que aparentemente conectava as margens sem estrada, apenas um vão na floresta. Posteriormente fomos informados de que os criminosos operam da seguinte maneira: eles começam derrubando as árvores e organizando a madeira para o transporte, deixando sempre uma camada da floresta entre o terreno explorado e o rio, e entre o rio e a estrada, mantendo tudo escondido até o momento do transporte. Vale dizer também que a estrada neste caso é a BR-230, mais conhecida como Transamazônica. Quando estiver tudo pronto, eles viajam com a balsa de noite, atravessam os cabos no rio e abrem o caminho final para transportar a madeira, que provavelmente é "esquentada" no pátio de alguma madeireira.
Especulando o valor da madeira nobre, chegamos a conclusão de uma grande árvore pode chegar ao valor de 1 milhão de reais.
Parece que hoje a balsa está cadeada para que não seja mais utilizada.
E o que nós, pescadores esportivos, temos a ver com isto? Penso que antes de sermos pescadores, somos seres humanos, somos brasileiros e estrangeiros, e vivemos neste país. Isto já seria suficiente para cuidarmos das nossas riquezas. E sendo pescadores temos o maior interesse em preservarmos a natureza, a nossa floresta amazônica.
Eu não sou biólogo e não vou me arriscar a entrar em detalhes sobre como as queimadas interferem no ecossistema da floresta. Mas pensemos um pouco sobre o ciclo daquelas águas, que, oscilam em torno de 10 metros todos os anos, adentrando a mata, permitindo que os peixes alcancem áreas que em outros meses estão secas no meio das árvores. E todos os insetos que dependem da floresta para sobreviver e depois viram alimento de peixes forrageiros. E as comunidades ribeirinhas que dependem da floresta para subsistência e por aí vai…
A riqueza da floresta por si só já é suficiente para que sejamos obrigados a preservá-la e nós, pescadores esportivos, temos a oportunidade de sermos fiscais da natureza.
Nos EUA são os pescadores e suas organizações que pressionam o governo para derrubar barragens para que o salmão selvagem volte a procriar nas cabeceiras dos rios, que evitam que alguns navios de cruzeiro destruam recifes e poluam as águas da Flórida, que lutam pela preservação dos Everglades e muito mais. Sim, os EUA são um dos maiores poluidores e sim, muitas vezes defender a natureza é ir contra o progresso imediato. Mas quem sabe nós podemos aprender com as boas lições (e também com as más) e buscar um progresso mais equilibrado, mais longevo.
E como nós podemos fazer a nossa parte neste assunto? Eu não tenho a resposta, mas te convido a refletir, sugerir, debater, enfrentar este problema em união.
Seja qual for a sua inclinação política, eleja a natureza em primeiro lugar.
Marcus Konze