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Impacto da Pandemia na indústria do Fly Fishing
Eu estava voltando para o Sendero Lodge após um bom dia de pesca no Arroyo Pescado quando me deparei com uma blitz dos Carabineros, a policia argentina. Nosso carro foi liberado, mas os outros dois ficaram para trás e ali sentimos, pela primeira, o gostinho amargo da Pandemia do Covid-19. Fomos identificados como um grupo de risco na Argentina, proibidos de sair do lodge, nem mesmo para pescar. Fizemos uma ginástica para remarcar os voos e conseguir um exame médico que nos permitisse retornar para casa. A foto ao lado foi tirada no aeroporto de Esquel, vestindo máscaras pela primeira vez e embarcando no último voo que saiu de lá para Buenos Aires, em Março de 2020.
Já no Brasil, cumprindo a quarentena e seguindo rigorosamente as novas ordens de afastamento social, senti um certo pânico, imaginando que a Flypesca estaria com os dias contados com a Pandemia.
Exatamente dois anos depois, estou aqui escrevendo este post. Foram dois anos desafiadores e cheios de incerteza, mas que expuseram uma realidade muito diferente daquela prevista lá atrás. Não só a Flypesca, mas quase toda a indústria do Fly Fishing mundial foi surpreendida com o aquecimento do mercado. As pessoas foram proibidas de viajar e socializar livremente, mas seguiram livres para atar e pescar, encontrando o refúgio que precisavam nas águas mais próximas de casa.
Enquanto o consumo foi crescendo à medida em que as restrições persistiam, as fábricas foram temporariamente fechadas e quando reabertas enfrentaram severas restrições de funcionamento; Funcionários foram afastados com sintomas; Matéria prima começou a faltar; A logística internacional passou a sofrer com gargalos; e pouco a pouco os elos da cadeia de produção foram enfraquecendo até que, em meados de 2021, grande parte das marcas de Fly Fishing estavam com as prateleiras vazias, cenário que se estende até hoje.
Difícil imaginar que, em plena Pandemia, e agora, espera-se, saindo dela, sobram encomendas e faltam produtos. A SAGE, por exemplo prevê reposição de alguns modelos de varas até Junho, mas outros sequer têm previsão. Tenho acompanhado o estoque deles para aproveitar as oportunidades, mas os estoques evaporam em poucas horas. Na ECHO a situação é a mesma, os conteiners chegam praticamente vendidos. Algumas marcas já não estão aceitando pedidos para 2022. São fly shops do mundo todo pescando produtos na ânsia de manter o faturamento.
O frenesi foi tanto, que alguns artigos americanos falavam até em controlar o acesso às águas e “filtrar” o público para evitar a entrada de novos adeptos que não condiziam com, digamos, o código de conduta do mosqueiro tradicional. Aqueles velhos pescadores acostumados a frequentar sua seção preferida do rio, agora tinham que dividir o espaço com todo tipo de pescador, muitas vezes barulhentos e mais interessados na cerveja e nas redes sociais do que viver a experiência na natureza.
Aqui na Flypesca seguimos batalhando para manter o estoque de produtos, mas não tem sido uma tarefa fácil e muitas vezes a paciência de nossos clientes tem sido a chave do nosso sucesso. Assim como nós também compreendemos que os fabricantes não são culpados pela falta de material. Até mesmo peças de reposição e garantias estão levando meses para serem atendidas. Em conversa com as marcas que representamos aqui no Brasil, a expectativa é de que a situação volte ao "normal" em 1 ou 2 anos, caso não tenhamos mais surpresas.
No fim, são estes os 3 “P”s que precisamos para enfrentar esta e qualquer outra Pandemia: paciência, perseverança e pescaria!
Marcus Konze